29 November 2009

Hooligans Brasileiros, Paranaenses, Curitibanos

Eu curto futebol. Curto ir ao estádio ver meu time jogar. Até curto assistir, uma vez ou outra, mesa redonda na TV. Torço, assisto jogo, vibro, em uma época cheguei a VIVENCIAR o futebol. Ainda pretendo, algum dia, advogar para algum clube de futebol - principalmente, se esse clube for o Paraná Clube (PrC).
Então, você deve estar se perguntando, por que o título de Hooligans? E eu explico: sexta-feira, dia 27/11, vi de perto, no terminal do Capão Raso, em torno das 7 ou 7 e meia da noite, uma cena típica daqueles marginais que se dizem torcedores: os hooligans.
Quando eu era pequena, ouvia diversas histórias sobre as brigas que aconteciam nos Atletibas. Não eram lendas urbanas, sempre alguém conhecia alguém que tinha sofrido uma violência por torcer para outro time. Tudo era motivo: ser coxa, ser atleticano, estar com uniforme da organizada, ter o adesivo do time colado na pasta do colégio, falar que torcia para um ou para outro time... Tudo era motivo. Eu tinha medo. Até hoje tenho de, por um azar do destino, passar perto de algum louco varrido que não torça pro PrC e, por eu estar vestindo as cores erradas, me dar mal.
No último dia 27/11, fiquei indignada e revoltada por conta de uma "suposta" briga de torcidas. O que mais me chamou a atenção e enojou foi o fato de que não eram torcidas adversárias: as duas torcidas que se enfrentavam abertamente no terminal do Capão Raso torciam para o meu time, o Paraná Clube.
Eram mais ou menos seis e vinte quando peguei o Circular Sul no terminal do Boqueirão, e em uma determinada altura, entrou um rapaz com o uniforme do Paraná. Intimamente, eu sorri. Acho que até pensei "que bom, um paranista". Continuei no ônibus, e mais ou menos na altura do terminal do Portão, esse paranista pegou o celular, e perguntou para um amigo onde "ia ser o fervo". Aí, me toquei de que provavelmente teria jogo do Tricolor naquele dia.
Chegando ao terminal no Capão Raso, ouvi um foguetório e, quando desci do ônibus, me assustei com a quantidade de torcedores paranistas lá. Mas mesmo assim, me senti tranquila, afinal, eu também sou paranista. Enquanto eu andava para o tubo onde pegaria o Colombo/CIC, notei alguns seguranças correndo pelo terminal, gritando, apontando para determinada direção... E vi que, do outro lado do terminal, estavam mais alguns torcedores do PrC.
Não, amigos, não eram poucos torcedores. Era uma MASSA de torcedores. Dos dois lados, o que eu estava e o outro lado. Foi quando me bateu o medo. Medo de ser paranista e ser confundida com eles. Medo de ser paranista e eles acharem que eu NÃO ERA paranista. Medo de apanhar. Medo de sofrer alguma violência. Isso porque as duas torcidas (pelo que eu pude entender, "Zona Norte" e "Zona Sul") estavam se provocando mutuamente.
Para isso eu nunca tinha me preparado psicologicamente. Quando há torcidas do Coritiba e do Atlético em um mesmo terminal, em dia de jogo, eu sei o que fazer: fico na minha, não provoco, não olho diretamente para eles, não uso o meu ar de desafio. E, se o pau começar a comer, dou um jeito de fugir. Mas, o principal, é que nunca, em tempo algum, nem sob tortura, eu falo que sou paranista, nesse caso.
Agora, quando são duas torcidas que deveriam apoiar o MESMO time, se provocando, chamando pra briga (porque era o que eles estavam fazendo), eu juro que não sabia o que fazer: além de fugir, o que eu faço? Falo que também sou paranista ou deixo pensarem que torço pra qualquer outro time (sei lá, o América e o XV de Piracicaba seriam boas opções)? Não me entra na cabeça, por nenhuma lógica torta que seja, esse tipo de rivalidade.
Aliás, tenho em mente algumas sugestões para tentar acabar de vez com essas brigas: ficha na polícia para os desordeiros, e punição com multa pros clubes e jogadores toda vez que isso acontecer. Mas não qualquer multa: além de uma multa braba, as torcidas dos clubes que se envolverem em briga antes e depois do jogo estarão PROIBIDAS de assistirem aos próximos 5 jogos do time nos estádios, mesmo que não seja seu o mando de campo. Perdem as torcidas, perdem os clubes, perdem os jogadores, perde o futebol... mas salvam-se vidas, integridades físicas, tranquilidade, tudo mais.
Fiquei revoltada porque vi no Capão Raso, gente assustada com as torcidas se enfrentando, e tendo que ser contidas com cassetetes por seguranças. Era gente que não tinha nada a ver com o pato; que estavam voltando do trabalho (como eu); que voltavam com seus filhos; que voltavam (ou iam) para a aula; gente idosa... Todos na mesma situação: assustados com a possibilidade de apanhar, de ser agredidos, de sofrer qualquer dano. E isso, gente, não tem como as torcidas remediarem.
Por isso, peço a você, que está lendo este texto agora, que abrace mais uma causa em favor da não-violência: chega de brigas intra-torcidas. Chega de guerras entre torcidas. Chega de tentar mostrar no grito e no braço que seu time é melhor; que sua torcida é melhor e domina. Se não por você, por algum conhecido seu. Já ouvi diversas histórias escabrosas, que não foram divulgadas na TV, por conta dessas gangues que se fantasiam de torcedores, e se escondem sob uma máscara de torcida organizada.
Peço aos dirigentes de torcidas organizadas que realmente ORGANIZEM as torcidas. Para que ninguém, dentro ou fora delas, seja atingido por meia dúzia de marginais que pode até ser que torçam pelo mesmo time que vocês, mas que com certeza, estendem sua fama de desordeiros ao resto de uma "organização" que faz com que o futebol se torne um espetáculo mais bonito.
E se você conhece um cara que ama encontrar com a torcida organizada pra brigar... o que eu posso dizer? Esse aí só vai se mancar que briga de torcida não faz o time crescer quando ver alguém próximo (amigo, parente, vizinho) morrer de uma maneira estúpida, justamente por conta de uma discussão no bar sobre o jogo do último final de semana...